báo cafe—Sempre quis falar sobre a guerra tarifária, mas não sei bem como, porque a guerra tarifária iniciada por Trump é realmente muito confusa.
Os números das tarifas impostas aos países do mundo são simplesmente uma bagunça, um verdadeiro labirinto. Quem consegue lembrar de tudo?
Mesmo que você consiga lembrar, três dias depois já mudou.
Mesmo que não mude, o significado ainda não é claro.
Por exemplo, os Estados Unidos e o Japão afirmaram ter chegado a um acordo: os EUA aplicariam uma tarifa de 15% sobre o Japão. Mas o que significa esses 15%? A interpretação inicial da opinião pública foi a seguinte:
Em 2 de abril, os EUA impuseram tarifas a mais de 180 países e regiões, com uma tarifa básica de 10%. Ou seja, ou era 10%, ou era mais que 10%. Mais tarde, a parte que era maior que 10% foi suspensa, mas o 10% permaneceu.
No fim das contas, continuava sendo 10%.
E agora, os EUA disseram que cobrariam 15% do Japão. A opinião pública interpretou que significava que os 10% foram elevados para 15%, um aumento de 5 pontos percentuais.
No entanto, o anúncio oficial dos EUA, publicado oficialmente e implementado em 7 de agosto, dizia outra coisa: 10% é 10%, mas sobre esses 10% seria adicionado mais 15%. No total, viraria 25%.
Então o Japão não aceitou. O ministro japonês da Revitalização Econômica, Akazawa Ryo, disse aos repórteres: “O que acordamos foi um total de 15%, não mais 15% em cima dos 10%”.
Viu como virou uma confusão?
Afinal, o que eles querem dizer? Eu, como cidadão comum chinês, não tenho capacidade nem autoridade para entender, mas isso atrapalha muito quando quero escrever uma redação.
Como é tudo muito confuso, escrever sobre a guerra tarifária dos EUA não é fácil. Mas é um assunto importante e necessário. Então, o que fazer?
A solução é simplificar. Abstrair os números confusos e caóticos, e partir do ponto de vista mais simples da população:
Quem perde e quem ganha?
Então vamos falar sobre quem perde e quem ganha.
Trump pode ganhar essa guerra tarifária?
Primeiro precisamos definir o padrão de vitória e derrota.
No sentido mais simples: Trump quer impor tarifas. Se realmente impuser, então venceu. Se os países do mundo se unirem contra ele e o obrigarem a desistir, então ele perdeu.
E qual é a situação atual?
Todos os dias vemos notícias confusas: hoje 15% contra a Coreia do Sul, amanhã 15% contra o Reino Unido, depois 20% contra a União Europeia, no outro dia 25% contra o Canadá, depois mais 10% contra o Canadá, totalizando 35%…
Esse processo me lembra uma história:
Zhang San disse a Li Si: “Vou te fazer um problema de matemática: um ônibus saiu com 10 pessoas. Na primeira parada, entram 3 e saem 2. Na próxima, entram 5 e saem 3. Depois, entram 10 e saem 7. Mais adiante, entra 1 e saem 3. Na seguinte, entram 8 e saem 6. Por fim, entram 9 e saem 12”.
Li Si ficou nervoso, tentando calcular quantas pessoas restaram no ônibus, com medo de errar. No final, Zhang San perguntou: “Quantas paradas o ônibus fez?”
Li Si não soube responder.
Qual a moral? Muitas vezes ficamos cegos com números confusos e esquecemos os fatos básicos.
Trump aumentou tarifas para este e aquele, mas desde 2 de abril, quando impôs tarifas a mais de 180 países, em todos os casos o mínimo foi 10%. Às vezes sobe, às vezes cai, mas os 10% nunca desapareceram.
Ou seja, como no problema do ônibus, o essencial é: os 10% estão sempre lá.
Isso significa que o aumento de 10% é definitivo, pelo menos até agora.
Voltando ao padrão de vitória: ele queria impor tarifas, e de fato impôs. Logo, venceu.
Sem dúvida, ele venceu. Uma vitória fácil, típica da “ciência da vitória” de Trump.
Dias atrás, bebendo com um fã e falando sobre “cooperação e ganhos mútuos”, ele me disse, com os olhos vermelhos: “Professor, acho que os EUA podem ganhar a guerra tarifária”.
Eu respondi calmamente: “Você está certo”.
Ele ficou surpreso. Expliquei meu raciocínio. E ele, novamente surpreso, bebeu outra taça sozinho.
Analisar sob esse ângulo não é exaltar os EUA nem desmerecer a China, mas sim reconhecer a realidade: os EUA conseguiram enfrentar 180 países e ninguém conseguiu detê-los. Isso mostra o poder dos EUA. Precisamos reconhecer isso, sem ilusão.
Mas isso é só o começo.
Outro padrão de vitória é o que Trump queria alcançar em seu íntimo. Se conseguiu, venceu; se não, perdeu.
O que ele queria? Não sei. Mas podemos usar como referência se conseguiu firmar acordos com os países.
Até agora, firmou acordos apenas com Reino Unido, União Europeia, Japão e Coreia do Sul.
Com China e México ainda negocia. Com outros, apenas impôs unilateralmente. Isso mostra que o objetivo não foi atingido.
Além disso, o objetivo principal era revitalizar a economia dos EUA, especialmente trazer de volta a manufatura. Para isso, os principais alvos são os maiores parceiros comerciais: México, Canadá, União Europeia e China.
Em 2024, os EUA importaram cerca de US$ 400 bilhões de cada um desses quatro. Outros países ficam bem abaixo, como Japão (US$ 100 bilhões) ou Índia e Brasil (menos de US$ 100 bilhões).
Portanto, se não resolver com esses quatro, não pode dizer que venceu.
Até agora, só resolveu com a União Europeia. China, México e Canadá continuam firmes. E note: China e Canadá são os únicos que responderam com contramedidas reais.
Ou seja, não venceu os gigantes, só alguns menores.
Isso é vitória? Só pela “ciência da vitória” de Trump. Para qualquer outro critério, não.
Então, os EUA já não são os mesmos, estão em declínio.
Mas eu prefiro “superestimar o inimigo”. Então digo que venceu, para não subestimarmos.
No entanto, essa vitória momentânea prepara as bases para uma derrota futura.
Por quê? Porque a essência da guerra tarifária é simples: impedir os outros de vender para os EUA.
Se você não consegue vender nos EUA, vai buscar novos mercados em outros países. E para isso, precisa melhorar relações, ser mais cordial, cooperar mais.
Ou seja, essa guerra tarifária força os outros países a se unirem entre si.
Veja a Índia: depois que os EUA impuseram tarifas de 25% e depois mais 25% (total de 50%), Modi vai visitar a China pela primeira vez em 7 anos.
Sem os EUA, isso não aconteceria.
Portanto, os EUA, ao tentarem isolar os outros, acabam isolando a si mesmos. E o resto do mundo se aproxima, construindo uma comunidade de destino comum — inicialmente sem os EUA, mas no futuro, inevitavelmente, com eles também.
Quando isso acontecer, os EUA terão que abolir suas tarifas e se integrar novamente. Nesse sentido, terão perdido, mas também terão vencido, porque finalmente se juntarão à comunidade internacional.
Assim, podemos dizer: os EUA agora venceram, no futuro também vencerão, mas não mais sozinhos. A vitória será de todos os povos do mundo, em um verdadeiro sistema democrático global.