O Café da Indonésia Pronto para Avançar Ainda Mais: Da Produção ao Consumo de Qualidade e Sustentável
A Indonésia é há muito tempo reconhecida como um dos quatro maiores produtores de café do mundo. No entanto, com o crescimento da tendência dos cafés especiais, o aumento da cultura de consumo de café e melhorias nos métodos agrícolas, o arquipélago parece pronto para entrar em uma nova fase de crescimento mais significativo na indústria cafeeira.
Ambição de Aumentar a Produção Nacional
Durante o evento World of Coffee Asia, realizado em Jacarta em maio de 2025, o Ministro Coordenador de Assuntos Econômicos, Zulkifli Hasan, expressou sua ambição de que a produção de café da Indonésia supere a do Vietnã, atualmente o segundo maior produtor mundial.
Embora o Vietnã ainda lidere em termos de volume, especialmente devido à produção intensiva de robusta voltada para exportação, a Indonésia tem grande potencial para superar o Vietnã em termos de valor e qualidade.
Com o apoio do governo, a utilização de terras ainda subaproveitadas e uma indústria de café já consolidada, a questão não é mais se a Indonésia pode aumentar sua fatia no mercado global, mas como fazê-lo.
Combinação Perfeita: Produção e Consumo de Café
Historicamente, a produção de café da Indonésia tem origem principalmente em Sumatra, com foco no arábica comercial. Hoje, porém, há uma mudança significativa, com regiões como Bali e Flores ganhando destaque na produção de cafés especiais de alta qualidade.
Shae Macnamara, fundador da Expat. Roasters, vê a Indonésia como um mercado único devido ao equilíbrio entre produção de café e rápido crescimento no consumo.
“Com uma população grande, muitos muçulmanos que não consomem álcool e o crescimento da cultura do café especial, a Indonésia está em uma posição muito favorável para o desenvolvimento dessa indústria”, explicou.
Essa realidade ficou clara no evento World of Coffee Asia, onde o entusiasmo do público foi enorme. Macnamara chegou a comparar o anúncio dos finalistas da Brewers Cup a um show musical, com gritos e vibração impressionantes da plateia.
Desafios da Produção em Terrenos Difíceis
Segundo dados do USDA, a Indonésia produziu cerca de 10,9 milhões de sacas de 60 kg na safra 2024/25, ou cerca de 6% da produção global. Isso ainda está abaixo do Brasil (38%), Vietnã (17%) e Colômbia (7%).
Entretanto, a geografia da Indonésia — composta por montanhas e florestas tropicais — faz com que a produtividade por hectare seja menor do que em outros países. Em Flores, por exemplo, a média é de apenas 300 kg/ha, enquanto em Sumatra pode chegar a 1.200 kg. Para efeito de comparação, o Brasil atinge uma média de 2.500 kg/ha.
Mesmo assim, a produtividade por hectare não é o único indicador de sucesso. Outros fatores como qualidade, sustentabilidade e valor agregado também são fundamentais.
Liderança em Café de Qualidade e Sustentável
Alain Scialoja, fundador da Koro Roasters, acredita que a Indonésia já ultrapassou o Vietnã em aspectos importantes como área cultivada, volume de produção de arábica e força do mercado interno.
Segundo ele, a Indonésia tem grande potencial para se tornar líder em cafés de alta qualidade, sustentáveis e com rastreabilidade. O foco na qualidade e sustentabilidade gera maior valor agregado e benefícios para os produtores locais do que simplesmente perseguir volume.
Práticas Sustentáveis no Nível dos Produtores
A Tanamera Coffee, atuante há mais de uma década no mercado de cafés especiais da Indonésia, enfatiza a importância de parcerias de longo prazo com os produtores. Eles acompanham agricultores de Sumatra a Flores, promovendo práticas agrícolas modernas e sustentáveis, além de apoio em educação e equipamentos.
“Estamos presentes do início ao fim – da fazenda à xícara,” disse John Lee, Diretor da Tanamera Coffee. “Levamos o feedback dos consumidores diretamente aos produtores, ajudando-os a melhorar tanto a produtividade quanto a qualidade.”
Para a Tanamera, a chave da sustentabilidade é gerar mudanças perceptíveis para os produtores. “É preciso haver resultados tangíveis – como aumento na colheita devido à poda correta ou adubação adequada,” explicou o cofundador Ian Criddle.
Enquanto isso, a Koro Roasters foca em parcerias com produtores que já aplicam práticas sustentáveis naturalmente. Segundo Scialoja, muitas fazendas na Indonésia operam de forma orgânica e ecológica, restando apenas que o mercado global reconheça essas práticas sem exigir certificações caras.
Cultura do Café Enraizada e em Crescimento
Uma das vantagens únicas da Indonésia está em sua forte cultura de café. Em muitos lugares, baristas e donos de cafeterias têm conexão emocional com o café que servem — muitas vezes por ele vir de sua própria região de origem.
“Quando pergunto aos indonésios sobre o tipo de café que usam, eles não respondem apenas ‘arábica’, mas também dizem o nome da região, como Mandailing, Gayo ou Toraja,” relata Macnamara.
Isso contrasta com países como a Austrália, onde o foco está mais na marca do torrefador do que na origem do grão. Essa proximidade geográfica e o conhecimento profundo da população sobre o café tornam a Indonésia um dos lugares mais autênticos do mundo em termos de cultura cafeeira.
Um Futuro Promissor para o Café da Indonésia
Com os preços do café relativamente altos, cada vez mais produtores optam por continuar cultivando café em vez de migrar para outras commodities. A combinação de aumento da demanda doméstica, melhora contínua na qualidade da produção e uma cultura de consumo em expansão torna o futuro do café indonésio muito promissor.
Macnamara está otimista: “A Indonésia tem todos os elementos para se tornar líder mundial em café – desde os produtores, torrefadores, até os consumidores conscientes da qualidade. É apenas uma questão de tempo até que o café indonésio ganhe o reconhecimento global que merece.”